O último dia da Conferência da PNME foi marcado pela divulgação de dados de pesquisa inédita sobre a percepção dos brasileiros em relação à mobilidade elétrica. O evento aconteceu entre 16 e 19/11 e reuniu especialistas nacionais e internacionais e mais de mil participantes

Pauta fundamental no contexto em que o Brasil precisa reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, conforme o compromisso firmado, em 2016, no Acordo de Paris da Convenção de Clima da ONU (Organização das Nações Unidas), a Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME) realizou entre 16 e 19 de novembro a semana da mobilidade elétrica. Em formato 100% virtual, a 1ª Conferência da PNME debateu o tema com profundidade e reuniu especialistas nacionais e internacionais, que apontaram os caminhos para o tema no país. A iniciativa, organizada pela Necta, contou com mais de mil participantes acompanhando o evento diariamente, que foi transmitido por meio de plataforma exclusiva e dedicada.

Nesse sentido, especialistas da indústria, do governo, da sociedade civil e da academia concordam que a mobilidade elétrica tem reflexos imediatos e importantes nos indicadores de saúde e emprego. Mas, tendo em vista que a cidade é plural, a pergunta que se coloca é: será que as pessoas têm essa percepção? Em outras palavras: será que a população também participa – ou está disposta a participar – dessa discussão?

Para o coordenador do portfólio de Transportes no iCS (Instituto Clima e Sociedade), Marcel Martin, a resposta é sim. O especialista apresentou números de pesquisa elaborada pelo instituto que compara dados de 2017 com 2020 referente ao uso de combustíveis fósseis e a transição energética. “A percepção da população em comprar um carro elétrico está se tornando uma realidade. Há um desejo e as pessoas entendem que é um caminho”, comentou.

DADOS DA PESQUISA DO INSTITUTO CLIMA E SOCIEDADE (ICS)
Pesquisa encomendada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) para a Ideia Big Data indica que 92% da população brasileira concorda com a eletrificação dos ônibus e defende que o transporte público deve ser qualificado, além de ter a percepção de que a transição energética é mais sustentável do que veículos a diesel. Os dados foram apresentados, nesta quinta-feira (19), durante a 1ª Conferência da PNME (Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica).

A pesquisa realizada com 2 mil entrevistados compara dados coletados em 2017 com 2020, e se refere ao uso de combustíveis fósseis e a transição energética. Comparando com a edição anterior, registra-se o crescimento de 46% para 71% em 2020 de probabilidade entre os entrevistados de comprar um carro elétrico. “A percepção da população em comprar um carro elétrico está se tornando uma realidade. Há um desejo e as pessoas entendem que é um caminho”, comentou o coordenador do portfólio de Transportes no iCS (Instituto Clima e Sociedade), Marcel Martin.

Comparando os resultados dessa pesquisa com a realizada em 2017, destaca-se o fato de que em 2020 mais que dobrou o número de pessoas que identificam como muito negativo o impacto do uso de combustíveis derivados do petróleo na qualidade do ar (11% para 25%) e nas mudanças climáticas (13% para 25%), o que reforça a hipótese de uma ampliação de consciência da população com relação a este aspecto dos combustíveis de base fóssil.

DESTAQUE PLATAFORMA PNME

No último dia de evento, o coordenador de projeto da GIZ e coordenador-executivo da PNME, Marcus Regis apresentou como a Plataforma vem sendo elaborada internamente. “Estamos propondo um plano nacional de mobilidade elétrica, que nada mais é que uma estratégia que conecta muitos pontos e esforços”, explicou. Longe de ser uma solução para revolucionar o setor, mas com o objetivo de agregar vários eixos, a proposta terá elementos para alavancar ações micro e macro que vão mobilizar recursos, pessoas e força política. No entanto, Regis alerta que a responsabilidade não pode ficar nas mãos de apenas uma parte dos envolvidos (indústria, academia, governo e sociedade civil), ressaltando que a mobilidade elétrica deve ser implementada levando em consideração conjunturas, oportunidades e momentos econômicos.

Sobre a relevância dessa estratégia coordenada, Carmen Araújo, do ICCT (International Council on Clean Transportation), defende que o Brasil possui segmentos com muito potencial e que a eletrificação trará vantagens para todos. “Para o desenho de uma política nacional, é necessário um direcionamento que estimule a coordenação de esforços. Precisamos entender o que queremos resolver e as oportunidades de cada região. Devemos sinalizar setores a investir e direcionar melhor seus segmentos”, explicou.

Essa ideia vai de encontro com o argumento de Fernando Araldi, do Ministério do Desenvolvimento Regional. Para ele, o Brasil ainda possui muitas ações individuais e quando se pensa em desenvolvimento a estratégia deve ser coordenada. “Desenvolver esse modelo no âmbito nacional é importante, pois agrega pontos de vista de vários setores envolvidos proporcionando um ambiente de fórum e discussão.”

Criada com intenção de organizar não apenas o debate, mas também coordenar as ações de setores industriais novos e emergentes, a estratégia nacional parece fácil de ser colocada em prática, mas ainda pode passar por alguns gargalos. Para sair do papel, Igor Calvet, da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), defende que dois aspectos são fundamentais: governança clara e financiamento.

Já para Anie Amicci, gerente de Mobilidade Urbana do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um passo importante é priorizar os projetos que já demonstram maior tração, com maior possibilidade de sucesso e que sejam representativos para a sociedade. “Devemos apoiar aquele que está perto de atingir seu objetivo, pois poderá trazer mais benefícios sociais, com mais atores engajados, com menos pontas soltas”, explicou.

O consenso de que a estratégia de um plano nacional trará várias oportunidades e que é importante contar com o governo para tornar esse ambiente propício de novas tecnologias é essencial, mas ainda assim é preciso saber comunicar com a sociedade. Calvet encerrou o último painel da 1ª Conferência da PNME com essa provocação. “Temos questões da mobilidade elétrica que envolvem saúde pública, empregos etc. Como comunicar isso para a sociedade? De tudo que foi discutido, devemos tornar a política pública uma realidade. Saber comunicar esse interesse na sociedade emerge uma preocupação maior e, com um governo responsivo, há maior chance de ganhar destaque”, defendeu.

FORMATO INOVADOR

Organizada pela Necta, a Conferência foi realizada em formato 100% digital, por meio de plataforma dedicada, e com interação do público com os palestrantes. A iniciativa contou com 17 painéis e com mais de 50 palestrantes de organizações nacionais e internacionais do setor público e privado. Os acessos aos conteúdos, nos quatro dias do evento, totalizam aproximadamente 2.700 acessos, devendo atingir um número ainda maior, visto que os debates permanecem disponíveis ao público no pós-evento.

DOS DO SETOR

De acordo com dados do WRI Brasil, estima-se que a poluição do ar nas principais regiões metropolitanas e capitais, no Brasil, esteja ligada a cerca de 20,5 mil mortes ao ano em decorrência de doenças cardiovasculares e respiratórias e seja responsável, ainda, por 5,2% das internações de crianças e 8,3% de adultos (por doenças respiratórias).

Já o custo anual aproximado em hospitalizações e ausências no trabalho chega a R$ 30 milhões, em função do impacto de cerca de 130 mil casos de faltas ao trabalho por doenças associadas à poluição.

Fonte: Com informações da 1ª Conferência da PNME (Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica)